sábado, 12 de abril de 2014

Autonomia e qualidade de vida na velhice

Autonomia e qualidade de vida na velhice

Sérgio Pardal
Assistente Social e Mestre em Relação de Ajuda e Intervenção Terapêutica

A noção de autonomia refere-se à competência que as pessoas, têm para tomarem as decisões por si próprias e de determinarem quais as normas e procedimentos mais adequados para si independentemente da vontade dos outros e está relacionada com a de qualidade de vida por ambas estarem associadas à saúde mental do idoso.

Neste contexto, este conceito é o critério utilizado para aferir as condições em que vivem todos osidosos e está relacionado com as condições materiais como a habitação o saneamento básico, o estado de saúde, o contexto económico, a educação, os factores sociodemográficos (idade, estado civil, género, etnia, entre outros) e sociais (as relações interpessoais com a família, amigos, vizinhos). Todos estes factores poderão contribuir para influenciar a maneira como os idosos interpretam a vida e se relacionam com os outros e com eles próprios, constituindo o que se chama “o bem-estar psicológico”.

Este conceito procura definir a percepção avaliativa que o idoso tem da sua própria existência, através da sua satisfação com a vida (valorização cognitiva) e da afectividade (atitudes manifestadas em relação a essa mesma avaliação), onde pode ser bastante influenciado por factores ambientais, socioculturais e pelo seu estado de saúde (mental e físico), constituindo um aspeto subjetivo que poderá influenciar oequilíbrio interno do organismo e a sua felicidade.

Nessa perspectiva o processo de envelhecimento é marcado por alterações de natureza biológica, provocadas pela degradação gradual das competências de ajustamento da sua anatomia física, onde se assiste posteriormente a um aumento progressivo da vulnerabilidade do corpo à doença e à incapacidade, psíquicas relacionadas com as capacidades psicológicas que os indivíduos podem dispor para se adaptarem às mudanças no meio ambiente físico e social. 

Estas competências abrangem, entre outras áreas ligadas à saúde mental, as funções cognitivas, a afectividade, a autonomia, as aptidões para a aprendizagem e a memória, entre outras competências ligadas à estabilidade emocional. As sociais compreendem o processo de modificação de funções, preceitos sociais e costumes, em conformidade com a sociedade e a cultura na qual está inserido, em relação às expectativas e comportamentos geralmente esperados para os idosos.

Envelhecer constitui um processo natural da vida e acontece gradualmente ao longo do tempo. As alterações associadas à idade manifestam-se de maneira diferente em cada pessoa, em idades mais jovens ou mais avançadas. Enquanto algumas pessoas envelhecem quase sem perdas de competências, outras sofrem de enfermidades e incapacidades ou estão dependentes de terceiros para quase todas as actividades vitais.

O envelhecimento não se restringe a uma transformação exclusivamente biológica, pois as condições socioeconómicas, a vida pessoal, o estilo de vida, as habilitações académicas, a actividade profissional exercida, a alimentação, os hábitos de risco como o consumo de álcool, tabaco, drogas, poderão contribuir para atrasar ou adiantar a sua acção nesse sentido, pelo que podemos considerar dois tipos de envelhecimento: O normal e o patológico. 

O considerado normal não é uma doença, mas uma sucessão de alterações biológicas que acontecem sem estarem associadas a uma patologia. Embora possam existir alterações no organismo das pessoas, estas continuam a ser competentes a nível físico e mental, sendo capazes de viver de maneira autónoma e independente. 

O envelhecimento patológico refere-se às alterações provocadas pelas doenças associadas a um determinado grupo etário e que são independentes das transformações consideradas normais. Estão relacionadas com o declínio característico das funções provocadas pelo processo de senescência normal, podendo contribuir para a diminuição da capacidade funcional e causar um aumento da necessidade de cuidados de saúde e do apoio de outras pessoas para a realização das suas atividades diárias e na origem de diversas como, a Osteoporose, a Artrite Reumatoide, a Hipertensão, a Diabetes, a doença de Alzeimer e a de Parkinson entre outras. 

Nesse sentido na velhice a autonomia e a qualidade de vida do idoso, está comprometida pela existência destas incapacidades resultantes de deficiências provocadas pelo envelhecimento biológico ou psicológico. 

Nessa linha de pensamento seria necessário, uma maior sensibilização da sociedade civil e dos governos dos estados para o implementar de políticas direccionadas para a melhoria das estruturas de apoio à população idosa, pois a maior incidência de situações de doença, incapacidade e dependência provocadas pelo envelhecimento deve-se à existência de situações sociais adversas (solidão, abandono, pobreza, exclusão social, maus tratos, negligência, dependência de familiares ou da ajuda das instituições de solidariedade social, entre outras), tão comuns na nossa sociedade. A adoção de um estilo de vida saudável e os comportamentos a ela associados ocorrem num sistema complexo de relações a vários níveis: individual, comunitário, ecológico e das organizações. 

Nesse âmbito e por a população idosa ser bastante heterogénea em relação ao seu estado de saúde, seriam necessárias mais campanhas de promoção da saúde, orientadas por equipas de profissionais das mais diversas áreas (Assistentes Sociais, Psicólogos, enfermeiros, que pudessem estimular a população idosa para hábitos e formas de viver mais saudáveis e ecológicas.

A mudança para um estilo de vida ativo adequado às competências físicas e psíquicas do idoso, como a prática de atividades em grupo, de animação sociocultural, jogos, pintura, leitura ou escrita, poderão constituir um estímulo à capacidade cognitiva do idoso, de forma a diminuir a incidência de doenças, recuperar a sua dignidade e a oportunidade de poder continuar a sentir-se útil, melhorar a sua qualidade de vida e a forma como perceciona a sua existência, constituindo um ganho para todos nós, pela possibilidade de termos pessoas autónomas durante mais anos, que podem dar o seu contributo à sociedade.

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